quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Luiz Gama

Luiz Gama nasceu no dia 21 de julho de 1830, no estado da Bahia. Era filho de um fidalgo português e de Luiza Mahin, negra livre que participou de diversas insurreições de escravos.
      Em 1840 foi vendido como escravo pelo pai para pagar uma dívida de jogo. Transportado para o Rio de Janeiro, foi comprado pelo alferes Antônio Pereira Cardoso e passou por diversas cidades de São Paulo até ser levado ao município de Lorena.
       Em 1847, quando tinha dezessete anos, Luiz Gama foi alfabetizado pelo estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que havia se hospedado na fazenda de Antônio Pereira Cardoso. Aos dezoito anos fugiu para São Paulo.
            Em 1850 casou-se e tentou frequentar o Curso de Direito do Largo do São Francisco – hoje denominada Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Por ser negro, enfrentou a hostilidade de professores e alunos, mas persistiu como ouvinte das aulas. Não concluiu o curso, mas o conhecimento adquirido permitiu que atuasse na defesa jurídica de negros escravos
             Projetou-se na literatura em função de seus poemas, nos quais satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Luiz Gama foi um dos maiores líderes abolicionistas do Brasil. Sempre esteve engajado nos movimentos contra a escravidão e a favor da liberdade dos negros. 
A Cativa
Nos olhos lhe mora, 
Uma graça viva, 
Para ser senhora 
De quem é cativa. 
CAMÕES 

Como era linda, meu Deus! 
Não tinha da neve a cor, 
Mas no moreno semblante 
Brilhavam raios de amor. 

Ledo o rosto, o mais formoso 
De trigueira coralina, 
De Anjo a boca, os lábios breves 
Cor de pálida cravina. 

Em carmim rubro esgastados 
Tinha os dentes cristalinos; 
Doce a voz, qual nunca ouviram 
Dúlios bardos matutinos. 

Seus ingênuos pensamentos 
São de amor juras constantes; 
Entre as nuvens das pestanas 
Tinha dois astros brilhantes. 

As madeixas crespas, negras, 
Sobre o seio lhe pendiam, 
Onde os castos pomos de ouro 
Amorosos se escondiam. 

Tinha o colo acetinado 
— Era o corpo uma pintura — 
E no peito palpitante 
Um sacrário de ternura. 

Límpida alma — flor singela 
Pelas brisas embalada, 
Ao dormir d'alvas estrelas, 
Ao nascer da madrugada. 

Quis beijar-lhe as mãos divinas, 
Afastou-mas — não consente; 
A seus pés de rojo pus-me, 
— Tanto pode o amor ardente! 

Não te afastes, lhe suplico, 
És do meu peito rainha; 
Não te afastes, neste peito 
Tens um trono, mulatinha!... 

Vi-lhe as pálpebras tremerem, 
Como treme a flor louçã 
Embalando as níveas gotas 
Dos orvalhos da manhã. 

Qual na rama enlanguescida 
Pudibunda sensitiva, 
Suspirando ela murmura: 
Ai, senhor, eu sou cativa!... 

Deu-me as costas, foi-se embora 
Qual da tarde ao arrebol 
Foge a sombra de uma nuvem 
Ao cair a luz do sol. 


Publicado no livro Primeiras trovas burlescas de Getulino (1861). 

In: GAMA, Luiz. Trovas burlescas e escritos em prosa. Org. Fernando Góes. São Paulo: Cultura, 1944. p.112-113. (Últimas gerações, 4

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